Pegou as malas e partiu

Jule Santos
2 min readNov 18, 2020

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“A gente faz mal um por outro, né?” — ela sorria enquanto os olhos enchiam de lágrimas, por dentro torcia para ele dizer que não, claro que não, tinha sido uma dádiva se encontrarem…

Mas ele ficou em silêncio observando as lágrimas inundarem os olhos castanhos, aos poucos a mucosa ficava mais vermelha, e então a água corria por suas bochechas, era tão poético ele pensava.

“Não quero te perder, mas não sei ficar sem deixar me machucar… Então, eu sei que tenho que ir. Sei que tenho que pedir para que você me deixe ir…” — Ela que era tão boa com as palavras, de repente, ela não conseguia dizer o que realmente pensava… Que ele era um idiota por deixar ela partir… Como ele conseguia rejeitar de forma tão fácil o que ela tanto queria? Mas por que era tão difícil dizer tudo aquilo pra ele? Logo ele? Não fazia sentido… Mas também fazia. Eles disseram e se desdisseram tantas coisas… foram tantas presunções e conversas sem sentido e tão dolorosas… Como pôde a gente ter que dizer tanto adeus? Ele não aguentava que aquilo fosse dito e que fosse real. E ela não conseguia viver aquilo sem dizer e transformar em algo real. Ela suspirou. Ninguém aguentava mais.

Ela sabia que tinha que ir. Ia tarde. Estava escuro e andar sozinha aquela hora não era uma boa idéia. Queria que ele pedisse para ela esperar, mas já havia muitos minutos que ele só assistia os movimentos repetidos dela de secar as lágrimas e o entreabrir dos lábios sem conseguir dizer nada para não cair em prantos.

“Eu te amo tanto”- atravessa ele, parecia um tiro. E doia. E sangrava. Ele nao queria.

E voltava pra ela o vazio da impossibilidade da troca. E doia nela, como uma punhalada.

Ela tinha que ir. Ela sabia. Da onde ia sair a força para esquecer tudo aquilo? Tudo aquilo o que? Revivia em sua mente uma das discussões sem sentido… Ela tinha que ir.

Finalmente pegou as malas e partiu.

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